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Blues & Literatura – I

A série “De onde vêm os blues” publicada nas últimas semanas são parte do conteúdo em torno da temática do blues reunidos no volume “Assim Nascem os Blues”. Além da sessão sobre a composição do blues que foi reproduzida neste blog, há ainda contos, cenas e ensaios que trazem um pouco do ambiente onde esta música criou raízes e frutificou.

De onde vêm os blues? É um pouco deste insondável mistério que este volume vem jogar um pequeno faixo de luz, tal como um spot a iluminar um palco modesto onde homens e mulheres do blues se dão a conhecer.

De Onde Vêm Os Blues XVIII – CAROLINA – Um amor pra toda a vida

Muitos amores foram eternizados em canções. Escrever uma canção sobre uma relação tão íntima e particular é como fazer uma tatuagem. Mesmo que a vida siga e outros amores aconteçam, aquela canção permanecerá a lembrar que este amor foi marcante.

Alguns poetas mais refinados conseguem produzir peças de arte para eternizar amores nem sempre tão importantes. Às vezes sequer lembram exatamente quem os inspirou.

Outros, porém, produzem uma pequena tatuagem, tosca, sem apuro estilístico, mas cujo sentimento que os inspirou é daqueles que se experimenta uma ou duas vezes na vida. A poética do blues e do rockabilly, utiliza de estruturas singelas — por vezes até ingênuas — para contar suas histórias. Mesmo as grandiosas.

De Onde Vêm Os Blues XVII – MINHA GAROTINHA – Amor verdadeiro

Os temas dos blues sofreram modificações ao longo destes mais de cem anos de história. Porém, o que não muda é o seu caráter de servir como registro do cotidiano de seus autores.

De jornadas fantásticas a acontecimentos ordinários, de anedotas a relatos de má sorte, o blues serve como pano de fundo para que homens e mulheres possam se expressar e, desta forma, criar registros de sua existência.

Já na parte musical, embora a estrutura seja sempre a mesma, os padrões rítmicos se alteram e um slow blues pode, perfeitamente, se converter em uma eficiente canção de ninar.

De Onde Vêm os Blues XIV – SE TU SABES QUE EU TE AMO – Não é culpa minha

Tema recorrente no blues e que contribui para a má fama dos seus intérpretes, mal entendidos amorosos sempre rendem boas histórias.

Muitos homens e mulheres utilizaram o blues como última tentativa de compreensão. De busca por empatia. Culpar os amigos para encobrir qualquer fraqueza de caráter é um procedimento adotado por vários destes sujeitos.

De Onde Vêm Os Blues XII – IGNIÇÃO – O fogo juvenil

Nos anos 50, a relação dos jovens com os carros era muito significativa. Casamentos começaram no banco de trás daquelas banheiras sobre rodas e algumas vidas foram perdidas nos desafios em alta velocidade.

De qualquer maneira — como o próprio cinema mostrou — acelerar carros envenenados sempre esteve no imaginário rebelde de uma geração que buscava sua identidade. O blues emprestou seus acordes e estrutura rítmica para que este movimento tivesse sua expressão musical. Com temas muito menos profundos e problemas que em nada lembravam as vicissitudes do povo do blues, essa geração escreveu suas canções para expressar aquilo que os incomodava, ainda que dentro de uma bolha de proteção que lhes preservava do verdadeiro sofrimento.

De Onde Vêm os Blues XI – EXCUSE ME SIR – Respeitosamente peço permissão

“Nunca um branco foi capaz de fazer um blues, porque eles não tem com que se preocupar, eles não têm problemas do tamanho dos nossos”. Eis o vaticínio de Leadbelly, ao se referir sobre a pretensão dos brancos em fazer o blues.

Não resta dúvida de que estas palavras proferidas por quem ajudou a construir a história do estilo, coloca sobre os ombros dos homens brancos uma carga quase impossível de carregar.

Porém, muitos tiveram a ousadia de tentar ocupar um espaço neste terreno tão bem cercado pelos seus criadores.

Alguns, até que representaram bem e adquiriram o respeito dos mestres. E, acreditem, não há realização maior para um postulante ao blues do que obter a aprovação daqueles que o criaram.

De Onde Vêm os Blues X: BLUESMAN – Um homem bom, sentindo-se mal

O preconceito acompanha os homens e mulheres do blues. É comum que seja assim com aqueles que romperam com padrões e desafiaram seu próprio destino.

O mestre BB King diz em uma canção com este mesmo título já escrita na sua maturidade, quando contava 81 anos: “Eu sou um homem do blues, mas sou um homem bom.” Assim, colocada a ressalva, ele segue nos contando as mazelas por que passou; “O fardo que eu carrego, oh, é tão pesado. Parece, parece que não há ninguém neste grande mundo”.

Sofrimento e solidão são a matéria prima para os compositores desta música desde que os primeiros versos entoados nas plantações do sul dos estados unidos.

É uma história de homens honrados, que conseguem superar as adversidades e triunfar ao final.

De Onde Vêm os Blues IX: NO ÚLTIMO TREM – A caminho de casa

Um bluesman está sempre de partida. É uma pedra que rola para não criar musgo. Há até uma expressão muito utilizada para definir este estilo de vida; hobo, que seria algo como migrante, errante, ou, simplesmente, vagabundo.

Essas mudanças frequentes têm muito mais um clima de perspectiva pelo que vem do que de lamento pelo que perdeu. Um bom homem do blues deve saber quando chegou a hora de partir e sempre ser o senhor de suas escolhas. Vários são os motivadores dessas mudanças. Aquelas situações que quando se estabelecem, causam confusão e — por vezes — sofrimento. Porém, no momento em que adquirem clareza, não há zona de conforto que o impeça de seguir. E se esse chamado que movimenta a jornada do herói for um amor, ele caminhará nessa direção com grande alegria e contentamento. Sem olhar pra trás.

De onde vêm os blues VIII: Mr FINGERMAN – Autobiografia de um bluesman

Para ser honesto com a história, não podemos negar que mulheres e homens do blues ostentam uma elevada autoestima. Um ego inabalável que lhes permite lidar com situações que às pessoas comuns, poderia leva-las à lona.

Um bluesman orgulha-se do seu talento e quer ser reconhecido por isso. Esteja este talento na música ou no amor, a ele(a) não basta ser, tem de ser percebido e admirado pelos outros.

Toda essa aparente rudeza, ou arrogância, se converte em suavidade quando ele se expressa através do seu instrumento.

Neste momento, o músico quer apenas revelar o estado de espírito.

A intensidade, a dinâmica e o andamento dos sons extraídos da guitarra, têm apenas a intensão de trazer toda a audiência para o mesmo campo de vibração. Criar uma comunhão entre um grupo de pessoas que, no fundo, anseiam pelas mesmas coisas.

De onde vêm os blues I: AOS REIS – um tributo

Todo o blueseiro tem suas referências. Aqueles a quem ouvir, com quem aprender e, porque não, para quem render tributos.

Homens e mulheres admiráveis que por sua atitude, personalidade, caráter, talento ou estilo se tornaram modelos – artístico ou pessoal – a ser seguidos.

Isso não significa que não haja autenticidade nas gerações recentes de blueseiros, claro que há. O fato de reconhecer seus ícones expressa a humildade que todo aspirante ao blues deve manter.

É parte da honestidade que se espera de quem escolhe o caminho do blues, reconhecer que a origem deste gênero músical foi muito sofrida. Que seus grandes expoentes, tanto da primeira como da segunda metade do século passado, enfrentaram dificuldades e toda a sorte de preconceitos – raciais, sociais, financeiras – para dar ao estilo o refinamento e o respeito que conquistou.

Se hoje o blues ascendeu socialmente – temos acesso a instrumentos de qualidade, ocupamos espaços em clubes requintados, somos reconhecidos como músicos talentosos e ainda posamos de artista, outsider ou intelectual – é porque o caminho foi pavimentado pelas mãos batalhadoras e persistentes daqueles que nos antecederam.

Leadbelly foi quem disse certa vez que “Nunca um branco foi capaz de fazer um blues, porque eles não tem com que se preocupar, eles não têm problemas do tamanho dos nossos”.